Oh, linda morena!
Cabocla selvagem
Que tem da paisagem
O vago perfume.
Dos bravos guerreiros
És a bem amada
E a onça pintada
De ti tem ciúme.
Oh, linda morena!
Dos seios maduros
Teus olhos escuros
Da cor do açaí,
Buscam na sombra
Da mata fechada
O porco-queixada
Que zela por ti.
Oh, linda morena!
Flor da samambaia
Na cama de palha
Teu corpo adormece
Escutando o canto
Da ave agourenta
Mas não te atormentas
Porque te conhece.
Oh, linda morena!
Teu corpo bonito
A luz do infinito
Vem iluminar
Enquanto tu dormes
Deitada na areia
O vento e a lua cheia
Te fazem sonhar.
Oh, linda morena!
Deusa da Amazônia
Que a relva risonha
Te louva cantando.
E quando caminhas
No mundo pacato
Os bichos do mato
Vão te acompanhando.
Oh, linda morena!
Cabocla selvagem
Que tens coragem
De brincar no rio.
E enquanto tu brincas
O manso rio desce
E o boto aparece
E fareja o teu cio.
Oh, linda morena!
Dos lábios vermelhos
Que tem como espelho
As águas serenas.
E banha seu corpo
Com o aroma silvestre
E depois se veste
Com chumaços de penas.
Oh, linda morena!
O sol te namora
E ao romper da aurora
Vem te despertar.
E quando cansada
Até os passarinhos
Te oferecem os ninhos
Para repousar.
Oh, linda morena!
Se um dia a idade
Te trouxer saudade
Dos rudes troféus,
E já bem cansada
Da vida na selva
Tupã te reserva
Um cantinho nos céus.