É natal e demagogicamente festejam o
nascimento daquele que foi morto na cruz, porque veio para derrotar os orgulhosos com os seus planos, derrubar dos seus tronos os
reis poderosos, colocar os humildes em altas posições, dar fartura aos que têm
fome e mandar os ricos com as mãos vazias (Lucas 1.51-53). Mas, o mesmo
povo que o aclamou com aplausos calorosos quando chegou perto de Jerusalém, na
decida do Monte das Oliveiras (Lucas 19.37), também clamou diante de Pilatos:
crucifica! Crucifica! (Marcos 15.13) E cruzou os braços esperando que Jesus
fosse morto na cruz para usufruir das benesses (benefício
ou ganho, normalmente recebido sem muito trabalho ou esforço) de um novo mundo, que Jesus seria obrigado a
construir sem a participação do povo que o almeja. O machado já está pronto
para cortar as árvores pela raiz. Toda árvore que não dá bons frutos será
cortada e jogada no fogo (Lucas 3.9). Porém, falta coragem! E os encorajados
pela obediência dos ensinamentos cristãos, na maioria das vezes são
assassinados, condenados ao isolamento nos presídios e alijados pela sociedade
farisaica. Dentre eles: Tião da Paz, Chico Mendes, Irmã Dorothy, Nelson Mandela,
Luiz Inácio Lula da Silva e tantos outros, que continuam sacrificando a própria
vida em defesa dos oprimidos.
Como pode ser feliz um povo que lhe é posto
nas costas o pesado fardo dos impostos para manter a opulência, a mordomia,
luxúria, pompa e toda forma de privilégio dos doutores da lei? (Lucas 11.45)
Como pode ser feliz um povo, que o fermento dos fariseus e de Herodes fez
crescer a massa do desemprego, até chegar ao ponto do crime fortemente
organizado (Marcos 8.15).
Raimundo
Amaral, o poeta da Amazônia.
Ao
Despertar de Um Pesadelo
Foi na ânsia louca de um pesadelo
que eu acordei e vi a situação do
mundo.
Onde eu vi abutres em um desespero
devorar cordeiro quase moribundo.
E vi num calabouço
a seta da vaidade,
mostrando a igualdade
no fundo do poço!
E vi no escuro
um povo alienado,
vivendo o passado
sem visar ao futuro.
E eu disse: ser erguida
minha gente morta,
que já nem se importa
de ser esquecida.
Deixa essa taça do amargo fel
e junto caminhemos à terra prometida,
úbere e florida
que tem leite e mel.
Removendo a vida, conquista o teu
espaço.
E cantando rasga o véu da nostalgia,
pois é covardia
se entregar ao fracasso.
Nesse universo de sonho e de medo,
eu conto o segredo mesmo sabendo
que quem mostra os abutres, aos pobres
cordeiros,
tem um pesadelo e acaba morrendo.
E num instante eu sinto a mente
iluminada,
para seguir a estrada palmilhando
verso,
mostrando os abutres, gente desalmada,
a devorar o povo cordeiro disperso.
Raimundo
Amaral, o poeta da Amazônia.