Foi na ânsia louca de um pesadelo
Que eu acordei e vi a situação do mundo,
Onde eu vi abutres em um desespero
Devorar cordeiro quase moribundo.
E vi num calabouço,
A seta da vaidade,
Mostrando a igualdade
No fundo do poço!
E vi no escuro
Um povo alienado,
Vivendo o passado
Sem visar ao futuro.
E eu disse ser erguida
Minha gente morta,
Que já nem se importa
De ser esquecida.
Deixa essa taça do amargo fel
E junto caminhemos à terra prometida,
Úbere e florida
Que tem leite e mel.
Removendo a vida, conquista o teu espaço,
E cantando rasga o véu da nostalgia,
Pois é covardia
Se entregar ao fracasso.
Nesse universo de sonho e de medo,
Eu conto o segredo mesmo sabendo,
Que quem mostra os abutres, aos pobres cordeiros,
Tem um pesadelo e acaba morrendo.
E num instante eu sinto a mente iluminada,
Para seguir a estrada palmilhando verso,
Mostrando os abutres, gente desalmada,
A devorar o povo cordeiro disperso.
Do livro: A Visão de Um Cego
Autor: Raimundo Amaral