sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Ao Despertar de Um Pesadelo


Foi na ânsia louca de um pesadelo
Que eu acordei e vi a situação do mundo,
Onde eu vi abutres em um desespero
Devorar cordeiro quase moribundo.

E vi num calabouço,
A seta da vaidade,
Mostrando a igualdade
No fundo do poço!

E vi no escuro
Um povo alienado,
Vivendo o passado
Sem visar ao futuro.

E eu disse ser erguida
Minha gente morta,
Que já nem se importa
De ser esquecida.

Deixa essa taça do amargo fel
E junto caminhemos à terra prometida,
Úbere e florida
Que tem leite e mel.

Removendo a vida, conquista o teu espaço,
E cantando rasga o véu da nostalgia,
Pois é covardia
Se entregar ao fracasso.

Nesse universo de sonho e de medo,
Eu conto o segredo mesmo sabendo,
Que quem mostra os abutres, aos pobres cordeiros,
Tem um pesadelo e acaba morrendo.

E num instante eu sinto a mente iluminada,
Para seguir a estrada palmilhando verso,
Mostrando os abutres, gente desalmada,
A devorar o povo cordeiro disperso.
                  Do livro: A Visão de Um Cego
                        Autor: Raimundo Amaral

A Ação do Homem

A Ação do Homem

Era um rio alimentando a vida
E o selvagem o reconhecia
E dava a ele a atenção devida
Porque sem ele nada existia

Era uma floresta guardando os segredos
Que mantinham a vida equilibrada
Havia vozes nos seus arvoredos
Havia flores sempre perfumadas

Era um oceano um tanto profundo
Que tinha pólos um tanto congelados
E continha o sal que conservava o mundo
E o ambiente sempre refrescado

Era um céu que protegia a terra
E um firmamento todo iluminado
Sem a fumaça e o furor da guerra
E o homem fez do mundo o seu reinado

Mas a ação do homem foi transformando o rio
E o oceano em um lixão imundo
Fez da floresta um espaço vazio
E extinguiu a vida do seu mundo

Resta o espírito num espaço cinzento
Porque o seu reino foi desmoronado
Não há mais vozes, nem flores e nem ventos.
A terra é um bloco empoeirado.


Após o terceiro século do terceiro milênio.
Raimundo Amaral, em 06/02/2007